segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

DRUMMOND ESCREVERIA ASSIM?

É comum nas atividades de grupo, em cursos e reuniões, acontecerem momentos de reflexão com  leituras de poemas e textos que, em sua maioria, são encontrados em sites de relacionamentos e milhares de blogs espalhados pela Internet.  Cuidado, não saia  copiando e colando  o que surgir na sua frente, você pode ser vítima de um texto apócrifo! 

O que não falta  na rede  são textos duvidosos, supostamente assinados por  grandes autores  da nossa literatura.  Um dos textos que se tornou comum em final de reuniões de grupos, é atribuído ao Poeta Carlos Drummond de Andrade e apresenta  uma escrita melosa e com informações que contradizem o pensamento do nosso poeta itabirano.    Vou lançar apenas uma estrofe do dito, até mesmo para não divulgar mais algo que parece mesmo não ter autenticidade. Veja ai:

"Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor..."
  
Ainda assim, para não cometer um pecado drummondiano com os amigos leitores, recorri a um dos grandes estudiosos sobre a vida e obra do Poeta itabirano, o Professor Edmilson Caminha, e pedi que orientasse sobre a veracidade ou não deste poema. Com o entusiasmo de quem ama a obra  do nosso poeta  maior, o Professor  prontamente  respondeu e elucidou um pouco mais  sobre o tema. Veja ai: 

Meu prezado João Carlos,


Não há, nas edições da Poesia Completa de Drummond, nenhuma referência a esse tal "Desejo a você", que circula, como se escrito por ele, nesse fascinante meio de comunicação (mas também caótica rede de arrasto...) que é a internet. Desnecessário, porém, ocupar-se com tal busca: quem conhece a obra do poeta itabirano sabe que ele jamais assinaria versos tão melosos, piegas e medíocres. O problema é que, hoje, qualquer um escreve qualquer coisa e atribui, em certos casos leviana e irresponsavelmente, a quem quiser: Drummond, Quintana, Millôr, Jabor, Veríssimo e tantos outros autores de renome. Parece que, na cabeça dessas pessoas, os textos que criam (às vezes de muito boa qualidade) só serão lidos e apreciados se falsamente atribuídos a escritores já consagrados. Uma pena, já que esses aspirantes a cronistas e poetas correm o risco de permanecer para sempre anônimos...

Sobre a matéria, a jornalista e pesquisadora Cora Rónai publicou um livro interessante: Caiu na rede (Rio de Janeiro : Agir, 2006). É indicação que faço a Você e aos seus leitores.

Um abraço amigo do

Edmílson Caminha


Portanto, meus amigos, vamos ficar atentos  com os textos que circulam pela rede mundial de computadores e, antes de usá-los,  façamos uma  pesquisa sobre suas fontes para assegurar de sua autenticidade e, claro, não levar gato por lebre.  

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